O
poder do silêncio do mistério provoca no poeta uma mistura de imaginação, com
intuição, com percepção, com obediência, com objetividade.
Isso
lhe dá a certeza de que nem tudo pode, ou deve, ou precisa ser dito. Há que ser
poeta, há que imaginar, há que intuir, há que perceber, há que obedecer e há
que ser leal ao segredo.
A
palavra constrói, a palavra destrói. O silêncio tem o mesmo poder.
Às
vezes ao dizer o silêncio podemos destruir a ponte que nos une a ele.
O
mistério, muitas vezes, é particular e, portanto requer lealdade daquele a quem
se revela.
Se
o poeta trai e escreve perde o poder. Não é egoísmo, é palavra de honra.
Palavra de rei que não volta atrás. Cuja lei apenas a criança obedece.
O
poeta é a criança que entra no mundo do mistério invisível e o transforma em
seu próprio reino, sem que ninguém mais precise saber.
O
poeta busca o indizível e quando o encontra, descobre que o caminho ainda nem
começou. Isso o enche de entusiasmo, e senhor de si se coloca a disposição das
palavras certas. As que podem e devem ser ditas de boca a ouvido, não como um
segredo (Esse assim se permanecerá), mas como uma boa nova que liberta.
A
liberdade está presa em nosso sexo, nosso cérebro e nosso coração. Quando nos
tornarmos heróis de nós mesmos e lutarmos contra o dragão libertaremos nossa
consciência.
Uma
consciência livre pode voar (É assim que vencemos a gravidade), pode mudar de
um continente a outro numa fração de segundos “Onde estiver nossa consciência,
lá estaremos”.
Uma
consciência livre não está sujeita a comparações e preconceitos, corrupção e
comércio, sensações e impressões, ostentação e miséria, e tão pouco ao acaso ou
as circunstâncias da vida.
Uma
consciência livre se integra ao Ser, que é o Divino em nós.
Racionalizar
a liberdade da consciência é como tirar a infância da criança: crueldade,
maldade, pecado.
Tudo
bem, tirando a crueldade, maldade e pecado. Proponho a cena:
Algumas
crianças brincando alegre e harmoniosamente com a terra e a água, pintadas como
uma obra de arte da cabeça aos pés. A mãe chega horrorizada e determina que
“Todos já para o banho!”; o desapontamento é instantâneo nos rostos das
crianças que mesmo cheios de lama mantém o olhar inocente de quem não entende o
porquê daquela censura. Mãe é mãe e declara que “Só mais cinco minutos!”. A
alegria harmoniosa volta aos olhos graciosos das crianças, pois elas não
entendem “cinco minutos”; o mundo para elas é o universo inteiro e o seu tempo
é a eternidade.